Deixa eu confessar algo…

Faz 4 anos que escrevi um texto e não publiquei. Até aí, tudo bem? Era uma confissão. Por isso, decidi guardar por esses anos e não expor.

Eu havia acabado de publicar meu primeiro livro (História de 50 metros) quando escrevi esse texto.

Hoje, decidi publicar. Saber que você pode ler isso, a qualquer momento, atrapalha minha respiração. Aqui está:

MEU PRIMEIRO DESABAFO NO FACEBOOK (Edit: nunca publicado.)

Desde muito cedo fugi da violência física. Nunca fui “de brigas”. Em um mundo de valentões e encrenqueiros, aprendi a ser discreto e a tentar passar despercebido. Isso nem sempre era possível, então busquei formas de me defender. Não, não aprendi nenhuma arte marcial, nem tive aulas de defesa pessoal. Observador, que sempre fui, percebi que a violência quase sempre resultava da falta ou excesso de palavras.

Calma, eu explico. “Quase sempre” as brigas – com agressões físicas – começavam com palavras, discussões por vários motivos – de futebol à ciúmes. Sim, nem todas as “tretas” precisavam de palavras, algumas iniciavam com um olhar. – Passou, olhou, o outro não gostou, o tempo fechou…. A falta de palavras ou o mau uso delas poderia resultar num desastre.

Então, passei a me defender assim: usando palavras. Não demorei muito para perceber que palavras podem ser muito mais contundentes do que qualquer soco ou pontapé. Tive até uma certa ascensão dentro do grupo de amigos. Passei a ser temido, afinal, ninguém queria ouvir “umas verdades secretas” em público. Se existisse uma modalidade de luta falada, tentaria pódio sempre. (Fico imaginando o que não se falava na minha ausência… melhor nem pensar…)

Se tivesse treinado golpes de defesa pessoal, talvez fosse mais fácil para quem convive comigo diferenciar uma brincadeira de uma agressão. Mas nem sempre a gente consegue medir a intensidade da violência que é verbal. Eis o problema.

Uma violência física deixa marcas que vemos desaparecer. Um vermelhão de um tapa, os arranhões, torcicolos (pescotapa) e até pequenas fraturas e distensões ficam visíveis por um tempo, mas somem. Se chegar ao extremo de rasgar a pele de forma absurda, é possível até fazer uma cirurgia plástica para que a marca seja removida. Mas, e a palavra mal-dita deixa marca onde? Essas marcas desaparecem quando?

Ah! O tempo! O tempo… só depois de uns anos começo a perceber que essa defesa neutralizou tantos ataques que não há mais nenhum inimigo. Nem muitos amigos. Ninguém suporta uma companhia dessas. Coisa desagradável usar palavras assim. Doses de sinceridade curam, mas também matam. Muito difícil acessar quem tem uma artilharia tão pesada pronta para um ataque. Só não entendo os poucos seres que resistiram aos ataques e – pasmem! – riem de alguns deles. Como quem brinca de beisebol com as balas de canhões argumentativos – antiiigos – que insisti em usar.

Meus amigos. Esses são velhos de guerra. Sim, não desistem de se aproximar mesmo sob forte ameaça. Fui violento. Usei palavras como quem usava uma espada, mas sem a habilidade de um samurai. Vivi ferindo a mim e aos outros. Insisti em me defender de toda e qualquer ameaça com elas. Esse texto é um belo exemplo disso. Tropeço na sabedoria com a espada na mão. Ser sábio e saber usar uma espada é uma ambição, algo que pareceu bem distante. A autocrítica há de ser um caminho para isso.

Cursei Letras. Escrevi uns livros. Vivo das palavras. Soldado com patente baixa nesta luta vã.

Desabafar no facebook não é algo inédito. Saber o poder das palavras, todo mundo já sabe, tem gente que até evita as “palavras negativas”. Que, ao menos, as pessoas que não sofrem deste mal sejam solidárias e não aproveitem que estou desarmado ou esperem eu estar offline para me atacar.

Estão vendo, ainda não consegui fugir da ironia… Alguém terá coragem de comentar ou temerão minhas palavras?

Luiz Henrique F. Cunha

29/09/2015

EM TEMPO:

Amigos, obrigado por ler tudo até aqui.

Escolhi muitas vezes o silêncio nos últimos anos. Pouco me pronunciei. Busquei poesia.

Agora, quero convidar a fazer parte desse site para trocarmos ideias.

Você pode se inscrever aqui.

Preciso ouvir você que já leu ou ouviu minhas palavras. O que elas significaram para você? Fui cruel contigo? Emocionei você? Vou aguardar seu comentário a qualquer momento aqui.

Prazer em re-encontrá-los!.

@LuizHenriqueFCunha